Sabendo tecer, não desperdices fio. Sabendo falar, não desperdices as palavras.(Laos)

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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Parabéns Armadilhas do Tempo!!!

ARMADILHAS DO TEMPO.
                              POR MÁRCIA TOITO

Eu não sei voar e você me jogou no vento. Agora estou em queda livre.
De vez em quando você aparece com um par de asas daqueles bem pequenos. O peso é grande e embora as asas batam com muita força, não conseguem me levantar por muito tempo.
Ainda não me esborrachei porque às vezes pego carona nos pássaros que passam ligeiros por mim. É uma boa sensação: voar ainda que seja por asas de outros.
Estou caindo, ao longe escuto dizer: ”Todos podem aprender a voar.” Respondo sem nenhuma manifestação sonora: “Todos que têm asas, eu não tenho!”
Vou flutuando, em vão tento planar. O esforço retarda a queda, entretanto não me leva de volta para o alto.
“Tente um pára-quedas”, alguém pode dizer. Só que eu não quero. Este recurso evitaria a minha morte não a minha queda.
E porque alguém desprovido de asas resolveu conhecer as alturas? Talvez porque jamais imaginou que pudesse cair, ou porque pretendesse descer da mesma forma que subiu: pelas mãos firmes que possuí, pelas pernas fortes que tem.
Ah... Eu pretendia descer pela mesma emoção que me fez subir. Aquela que foi guia e guardiã nos momentos em que a subida parecia difícil demais para quem só conhecia a segurança do chão.
Eu ainda tenho as mãos sangrando, joelhos e pés esfolados pelo esforço que fiz durante a escalada. Tenho as marcas que o sol me deixou e as tantas gotas de chuva que meu corpo pode provar. Isto é nada diante da conquista que tive em mente. Qualquer dor pode ser ignorada quando se tem a certeza de uma felicidade.
Eu tive e fui sim muito feliz. Pelos aromas que senti, pelas paisagens que conheci. Pelas tantas cores e tons que meus olhos puderam tocar.
Nunca pensei nas feridas. Eu me sentia alegre com tal descoberta e a possibilidade da conquista ampliava meus horizontes. Não havia espaço para nenhuma dor. O momento de encantamento exigia de mim absoluta entrega. É... Até parece que naquele tempo eu sabia voar.
Mergulhei no meu encantamento. Tanto que até mesmo agora enquanto caio, fecho os olhos e imagino que estou subindo.
Loucura para quem lê assombro para quem sente e não sabe o quê fazer para impedir esta queda.
Ah... Eu não sei mesmo voar. Gostaria que um pássaro me carregasse por um longo tempo. Gostaria de voltar às alturas mesmo que não fosse para ficar... Entendo que o lugar de quem não tem asas é no chão. Contudo não tive tempo de aproveitar as paisagens que conheci. Vi e senti. Porém nada provei.
“Pássaro, se você pode me ouvir, me leva de volta para cima, preciso ficar mais um pouco. Resgatar a energia que lá deixei e provar que posso descer sem cair.”
O tempo é o senhor das minhas conquistas, o carrasco das minhas desilusões. Concedeu-me privilégios que guardo como um tesouro. Foi o tempo, o soberano na roda da vida que atrasou por anos, momentos que só poderiam ser vividos numa outra época. Fez congelar dias de encantamento e descoberta. Recompensou-me com uma vida linda, serena. A minha vida planície. Sem buracos, curvas, subidas... A vida de olhar para frente, de preciosidades. Mas eis que a confiança era tanta e a estrada tão segura, que o carrasco resolveu me testar.
Tudo foi derretendo, encharcando a segurança da minha estrada. O senhorio, sem que eu possa entender, usou a minha vida para se divertir. Quem sabe para provar que ninguém foge do destino. Sem qualquer sinalização, inverteu meus momentos. Tirou meu chão, deu-me outro em posição vertical. Neste terreno íngreme e pouco seguro não sei caminhar.
Reflexões. Hora de aceitar o que o tempo por capricho ou precaução tentou me mostrar. Não posso julgar os porquês desta minha queda, não os tenho definidos. Nem quero, neste meu desabafo, discutir a conduta do tempo.
Por hora faço valer a continuidade da queda. Quanto mais e aproximo do chão mais penso em você que ficou lá no alto. Você meu destino trocado. A parte de mim que ficou para trás, perdida nas Armadilhas do Tempo.
MÁRCIA TOITO
EM 17-12-2008
 
"Armadilhas do tempo são como o vento, levando as folhas
para lugares distantes,
O meu pensamento é o mesmo que o seu,
Mas hoje o meu coração bate mais forte que antes"

Um comentário:

  1. É SEMPRE MUITO DIFÍCIL LER ESTE TEXTO POIS QUE AINDA ESTOU EM QUEDA.ENTRETANTO GOSTO MUITO DE VÊ--LO AQUI NOS CONTORNOS DA LUZ.
    OCORRE É QUE O TAL PÁSSARO TEM ME AJUDADO, NÃO A SUBIR, MAS A REFLETIR ENQUANTO DESÇO.

    AGRADEÇO A CONSIDERAÇÃO!! BJ É BOM RECEBER HOMENAGENS ÀS 6:30 H, HEHEH

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